25 de ago. de 2009

Martin Chambi: Raízes culturais
























De família inca, Martin Chambi nasceu em Coaza, na província de Puno, ao norte do Lago Titicaca, em 1891. Seu primeiro contato com a fotografia foi na mina em que seu pai trabalhava: o fotógrafo inglês que documentava os trabalhos precisava de ajuda com o pesado equipamento, e o jovem Chambi apresentou-se como voluntário para o serviço. Entusiasmado pela descoberta da atividade como fotógrafo, Chambi foi trabalhar e estudar em Arequipa, onde aprendeu o ofício com Max Vargas.






Menino com chapéu (Niño con sombrero, retrato no estúdio de Cuzco, 1928 ou 1934)




Em 1920, estabeleceu-se em Cuzco, onde abriu um estúdio fotográfico que logo iria receber toda a elite da cidade, das famílias dos grandes fazendeiros aos políticos e intelectuais. O uso inteligente e sensível da iluminação natural e a economia de adereços decorativos, então comuns, começou a delinear o estilo de seus retratos.




O casamento dos senhores Gadea (La Boda de los Señores Gadea), 1930

Quando nos anos 60, Irving Penn fotografou em Cuzco para seu livro Worlds in a Small Room, utilizou o antigo estúdio de Chambi, emulando, talvez sem saber, a luz suave que caracterizara todas as fotografias ali produzidas.





Músicos de Cuzco, 1934



Fora do estúdio, chamado por seus clientes para retratos de família nas grandes estâncias, Chambi voltou seu interesse para a massa de empregados rurais, todos incas como ele. Pode, assim, junto a uma riquíssima documentação das famílias, festas e reuniões da elite, mostrar em seu trabalho, com uma dignidade notável, sem artifícios, o outro lado da sociedade, o lado dos excluídos.






A família de Ezequiel Arce com seu cozido de batatas (La familia de Ezequiel Arce con Su Cosecha de Papas), 1934

Chambi foi, também, um valioso fotógrafo da arquitetura inca. Ele fotografou as ruínas de Machu Picchu logo após sua primeira limpeza, no início dos anos 30. As extraordinárias ruas de Cuzco, a parede curva de Corincancha, foram fotografadas por Chambi já em 1925, logo após sua chegada. As fotografias que produziu não têm apenas valor histórico: poderiam ser parte de qualquer coletânea sobre o que deve ser a boa fotografia de arquitetura.
Não foi por acaso, portanto, que o fotógrafo e antropólogo norte-americano Edward Ranney, autor de um excelente trabalho sobre a arquitetura inca, Monuments of the incas, 1982, interessou-se pelo fotógrafo cuzquenho cujo trabalho descobrira em 1975 - dois anos após sua morte -, por meio de Victor e Julia Chambi, filhos de Martin Chambi.
Com a colaboração da organização Earthwatch, Ranney liderou um grupo de profissionais que reorganizou e catalogou a enorme coleção de negativos deixada por Chambi - trabalho que culminou, em 1979, com uma grande exposição no Museu de Arte Moderna de Nova York, apresentada em Londres e Paris.
Há 500 anos, para que o morticínio dos nativos se aplacasse, os conquistadores precisaram de uma bula papal que assegurasse que os índios tinham alma. As coisas têm mudado, mas ainda é recomendável que se conheça e se divulgue o talento e a importância de nossos criadores nativos - nossos, sul-americanos - para que possamos ter uma visão mais abrangente de nossas raízes culturais.

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